Do Pão-por-Deus e das castanhas

Dia de "Pão-por-Deus"

Estamos quase no dia 1 de novembro, dia de Finados e do nosso tão madeirense Dia de "Pão-por-Deus", ancestralmente ligado ao culto dos mortos. As tradições alimentares desta quadra estão associadas ao pão e aos frutos secos, especialmente a castanha, oferecidos a quem pedia de porta em porta o “Pão por Deus” por intenção dos defuntos.

Este rito manteve-se entre nós até décadas recentes, embora já transformado num dia em que as crianças saíam à rua ou percorriam casas de familiares com um saco de pano, mais ou menos decorado, pedindo o “Pão por Deus” que os tempos enriqueceram com guloseimas, além dos frutos secos. Se este hábito se foi desvanecendo nas famílias, as escolas trabalhavam ainda com os mais novos esta festa, mas apesar de pontualmente lembrado, a pressão cultural e comercial do "Halloween" de origem anglo-saxónica tende hoje a substituir o antigo “Pão por Deus”.

Castanhas, na cidade e na serra

É Outono e com ele chegam as castanhas "quentes e boas" às ruas da nossa cidade.

Aproveitado desde a pré-história, há cerca de 100.000 anos, este fruto predominou na dieta de muitas populações europeias e até ao aparecimento da batata e do milho, foi essencial na subsistência das povoações rurais montanhosas: https://www.medis.pt/mais-medis/dieta-e-nutricao/castanhas-um-fruto-cheio-de-nutrientes/

Na Madeira, a sua presença na paisagem e na dieta alimentar de lugares como o Curral das Freiras percorreu vários séculos até hoje. A castanha, tradicionalmente cozida, assada e utilizada em sopa, foi mais recentemente recriada na confecção de iguarias já reconhecidas da gastronomia local, como a queijada de castanha, o pastel do Curral ou a broa de castanha.

Como cartaz desta freguesia, nasceu aqui há várias décadas a Festa da Castanha, que a 1 de novembro atraía muitos visitantes, até ao fatídico ano de 2020, em que a pandemia vedou todos os usuais encontros e eventos.

Curral das Freiras, Festa da Castanha 2019. Arq. ACH

Mas, ainda que para os promotores e apreciadores destas festividades, 2021 não seja ainda o ano do regresso das multidões, continua a ser fascinante voltar ao Curral das Freiras, nestes ou em tantos outros dias. Estão lá os castanheiros e as castanhas, as cores do Outono, os lugares a redescobrir junto à ribeira ou subindo caminhos e veredas, a paisagem magnífica, o sol subindo a montanha ao fim da tarde.

E não percam a excelente exposição dedicada ao tema da castanha do fotógrafo Nuno Gonçalves, junto à igreja.

Curral das Freiras. Arq. ACH

Exposição Nuno Gonçalves - Festa da Castanha 2021

Aqui vos convidamos a voltar a descobrir o Curral das Freiras - onde está localizada a nossa sede - para além do cartaz turístico, em dias de festividades ou de silêncio.

A Direcção da Associação Casas com Histórias