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O 25 abril e as casas do antes e depois

Arquivo ACH - 25-4-2020


Caras/os associadas/os e amigas/os

Na 46ª celebração do 25 de abril de 1974, efeméride marcante da história contemporânea portuguesa, evocamos a sua relação directa e indirecta com tantas histórias das casas, antes e depois dessa data. Antes, as casas da clandestinidade, onde se abrigavam os opositores políticos perseguidos ao longo de décadas pela polícia política do regime (a PVDE - Polícia de Vigilância e Defesa do Estado entre 1933 e 1945; a PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado, entre 1945 e 1969; a DGS - Direção-Geral de Segurança, entre 1969 e 1974).

A sede da polícia política do Estado Portugês ficava na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, com delegações em todo o país e nas então colónias. Na Madeira, a sede da PIDE ficava na Rua da Carreira, São Pedro-Funchal, numa casa nas proximidades da então "Escola da Carreira". A memória dessa casa faz parte também da nossa história, num período ainda pouco estudado, embora esteja documentada uma vaga de prisões ocorrida na Madeira nos anos 40 do século passado. Como era a vida das pessoas nas casas clandestinas? Há muitos relatos e testemunhos, como este de Gertrudes Paulino:"O que fazia durante a vida clandestina?O Manel [Manuel da Silva] andava sempre por fora a controlar. Eu controlava a casa. Era o meu papel." https://omirante.pt/semanario/2006-07-26/entrevista/2006-07-26-trinta-anos-na-clandestinidade ou “Viver na Clandestinidade” no Museu do Aljube, Câmara Municipal de Lisboa, 2016 https://vimeo.com/152553305 Era de ascendência madeirense - e viveu algum tempo numa casa do Porto da Cruz, Machico - um dos protagonistas do 25 de Abril de 1974, o general António de Spnínola, que como representante do Movimento das Forças Armadas, recebeu do Presidente do Conselho de Ministros, Marcello Caetano, a rendição do Governo (que se refugiara no Quartel do Carmo), assumindo assim os seus poderes públicos. A 26 de abril, seriam enviadas para a Madeira as maiores figuras do regime deposto, ficando até 20 de Maio no Palácio de São Lourenço até à definição do seu destino futuro.

A vida de Spínola passou pela casa dos seus avós, no Porto da Cruz (já demolida, ficaria onde hoje se situa o campo de futebol, no centro da vila, segundo informação a confirmar):

"Em Dezembro de 1917, na sequência de novo golpe de Estado, chega ao poder o “presidente-rei” Sidónio Pais. A família Spínola envia os dois filhos para casa dos avós em Porto da Cruz, Madeira. Foi ali que Spínola iniciou a escolaridade e completou o primeiro ano da instrução primária, em Julho de 1917". https://www.jn.pt/domingo/spinola---biografia-sem-monoculo-1524734.html E como se viveu o dia 25 de Abril de 1974 nas casas da Madeira? Provavelmente de forma muito semelhante na maioria delas, embora com percepções e avaliações muito diversas, em meios rurais e urbanos, entre famílias que tinham filhos na guerra do "Ultramar" ou no estrangeiro para escapar à guerra, ou apenas sonhavam com mudança política, ou nem por isso. Em muitas essas casas, nesse dia, se telefonava a quem estava longe e se ouvia a rádio - a televisão, chegada à Madeira em 1972, iniciava a emissão apenas ao final da tarde e as notícias chegavam com atraso.Se alguns terão continuado a ouvir as estações de rádio locais - o Posto Emissor do Funchal e Estação Rádio da Madeira - outros estiveram atentos à BBC, à Voz da Alemanha e sobretudo à Emissora Nacional, e nesta às canções de intervenção antes proibidas, aos movimentos em Lisboa, a Spínola a falar ao país:

"Ao longo de toda a manhã, as emissoras portuguesas noticiaram que Lisboa estava invadida por militares e pediram aos cidadãos para não entrarem em confronto com estes, afim de, evitar situações desnecessárias. Através das emissoras, o povo ficou a saber que além das rádios, a RTP e o aeroporto de Lisboa tinham sido ocupados. Estava em preparação um cerco para o Quartel do Carmo, onde se presumia estar Marcelo Caetano". https://www.linguafiada.info/a-importancia-da-radio-na-revolucao-de-abril-de-1974/

E depois, ao longo dos anos, um pouco por todo o país, casas se agruparam em bairros novos ou renomeados "Bairro 25 de abril" ou em ruas novas ou renomeadas "Rua 25 de abril". E até uma casa de férias para turismo se chamou "Casa 25 de Abril": "Com uma piscina exterior, um bar e um jardim, a Casa 25 de Abril (...) fica a 45 km de Guimarães (...). O Porto fica a 37 km do alojamento, enquanto Braga está a 42 km".

Inesperadamente, 46 anos depois, por motivo tão diferente, a indicação é novamente e desta vez também na Madeira, "recolherem a suas casas“:

"Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma.” https://www.publico.pt/2020/04/23/culturaipsilon/opiniao/recolham-casas-conservar-maxima-calma-1913277

Fiquemos, pois, "com a máxima calma", recordando as nossas casas na década de 70, as casas às quais chegaram pela rádio e telefone as notícias do 25 de abril. Casas espalhadas por toda a Madeira como muitas das que Filipa Venâncio pintou, algumas já demolidas, para sempre na nossa memória através das suas telas, a redescobrir em: http://www.filipavenancio.pt/exposicoes/

Fiquem bem, com as casas lembradas no 25 de Abril e as casas de antes e depois na Madeira, por Filipa Venâncio.

A Direcção da Associação Casas com Histórias

FILIPA VENÂNCIO: PADARIA SÃO ROQUE, ACRÍLICO s/ TELA, 2015


FILIPA VENÂNCIO: PBX, ACRÍLICO s/ TELA, 2009



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