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o tempo do Natal

  • zearaujo1
  • 22 de dez. de 2021
  • 3 min de leitura

A FESTA EM 2021


Há um ano, partilhávamos aqui a afirmação de Valter Hugo Mãe: "A pandemia ensinou quem quis aprender que todas as coisas que valem a pena radicam ou apontam para o encontro".

2021 permitiu-nos voltar a algum tipo de encontro, mas é ainda condicionados pela pandemia que viveremos este Natal.Ainda assim, muitas são as propostas que, por toda a ilha, nos apelam às vivências da quadra - os presépios, as decorações e as luzes, os cheiros e sabores próprios desta época do ano. São testemunhos do riquíssimo património imaterial que gerações e gerações foram transmitindo e que se conservam vivos, naturalmente adaptados ao presente porque o património não é estático nem se cristaliza, faz-se de pessoas, com e para pessoas, reflectindo a evolução dos tempos e dos costumes. Mas, no essencial, "a Festa" continua a ser única e imperdível para cada um de nós.

Sé, Funchal. Dez. 2021, Arq. ACH


UM PRESENTE DE NATAL


Nas voltas apressadas destes dias pela cidade, deparámo-nos, na rua das Pretas, com um verdadeiro presente de Natal aos funchalenses: o início da reconstrução do edifício da antiga confeitaria Felisberta, cujo estado de ruína lamentámos no recente percurso "Usos do Património num quarteirão de S. Pedro". Nada nos devolverá a própria Felisberta, reduzida a escombros nos incêndios de Agosto de 2016, encontrando-se já então fechada há cerca de 35 anos. Mas ficará a memória do seu letreiro pintado e ao imaginário sensorial de quem os conheceu voltarão aqueles pastéis de feijão, cornucópias e tantos outros bolos magníficos aguardando no expositor-vitrina central em madeira, atrativo no Natal e em todo o ano. Poder preservar esta memória urbana é motivo para celebrarmos este processo de "fachadismo", nuns casos lamentável, mas aqui inevitável porque a fachada foi o único elemento que resistiu às chamas e a alternativa seria a sua demolição, que felizmente não ocorreu.

Edifício da Felisberta, Rua das Pretas, Funchal. Dez. 2021, Arq. ACH


POVO COM MEMÓRIA


Outras casas isoladas ou quarteirões tristes, provavelmente a demolir em breve, definham em escombros pela nossa cidade, guardando memórias esquecidas, fragmentos de vidas dos que por ali passaram. Uma cidade é um corpo vivo e evolui, mas deixarmos que nada dessas vidas se registe e relembre é promover o esquecimento, tão comum neste séc. XXI que já foi designado o "século da desmemória".

Em Santiago do Chile, no Estádio Nacional Julio Martínez Prádanos (tristemente celebrizado no golpe de Pinochet em 1973), avulta a frase “Un pueblo sin memoria es un pueblo sin futuro”.

Do passado, não há que evocar apenas glórias ou desgraças; as vivências de todos os que nos antecederam, anónimos ou figuras públicas, fizeram o que somos hoje e merecem a nossa atenção e registo: "um povo sem memória é um povo sem futuro".

Quarteirão entre a Rua Brigadeiro Couceiro e a Rua da Alegria Funchal. Dez. 2021, Arq. ACH


POVO QUE CANTA


Mas não só de memória sobrevive um povo. A Michel Giacometti, etnomusicólogo corso que viveu e trabalhou em Portugal, se deve uma das mais importantes recolhas antológicas de sempre da música regional portuguesa, traduzida na série da RTP "Povo que canta", exibida entre 1971 e 1974. Em sua homenagem, foi inscrita em 2013 no Museu do Cante, em Serpa, a frase da sua autoria: "Povo que canta não morrerá".

Nesta época, tocando e cantando animadamente apesar das máscaras, nas "Missas do Parto" e em tantas outras ocasiões festivas, músicas cujas origens se perdem no tempo, tocadas e cantadas por tantos antes de nós, somos todos "Povo que canta".

Missa do Parto, Curral das Freiras.19 Dez. 2021, Arq. ACH


Em breve voltaremos a dar-vos conta de próximas atividades a promover por esta associação.

Entretanto, a Direcção da Associação Casas com Histórias deseja-vos um Feliz Natal.

 
 
 

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