Tempo de regresso a festas e arraiais
- zearaujo1
- 25 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Caras/os associadas/os e amigas/os
Esperamos que estejam a passar bem este Verão, abrigados do calor nas vossas "casas com histórias", talvez sob a frescura de uma latada.

Há quase 2 anos, no post de 29-8-2020 (Arquivo ACH, disponível em https://www.casascomhistorias.pt/post/tempo-de-viagens-dentro-ou-fora-de-casa), referíamos aquela fase de restrições como um “Tempo de viagens ao que há-de regressar”. Perante a impossibilidade de participar nas romarias e arraiais na Madeira e Porto Santo - inexistentes ou adaptados àquelas difíceis circunstâncias de 2020 - sugeríamos a consulta a registos como o Dicionário das Festas, Romarias e Devoções da Madeira (https://loja.madeira.gov.pt/product/dicionario-das-festas-romarias-e-devocoes-da-madeira-para-compreender-a-piedade-popular-madeirense/), ou os constantes do inventário de património imaterial disponibilizado pelo Museu Etnográfico da Madeira (Festa de Nossa Senhora do Livramento, último fim de semana de Agosto, Curral das Freiras, concelho de Câmara de Lobos: https://museus.madeira.gov.pt/DetalhesObra?id=21&tipo=IMA&fbclid=IwAR2dFeYQ7mJXtvFZUvoqOoRzJjvYy7VVvuu0P3OVmC9CNMX2vpZ XuWnd2F4).
E acreditávamos então que “estas e tantas outras tradições suspensas - o nosso património imaterial - não se hão-de perder pelas alterações forçadas deste ano, inéditas em tantos séculos de história”.
Eis-nos, em 2022, de regresso à vivência plena das nossas festas. As “tradições” não se perderam, mas, como já ocorria antes da pandemia, adaptam-se aos tempos.
Nalguns casos, tendemos a lamentar que se estejam a desvirtuar ou menorizar as expressões tradicionais: as flores de plástico substituíram as de papel, os despiques perdem terreno para a “música ambiente” e as bandas filarmónicas para os “artistas de ritmos modernos” (como nos anos 70 do séc. XX se chamaram os primeiros conjuntos musicais que animavam os arraiais); nalgumas localidades, as romagens vão perdendo algum brilho pelo menor número de participantes ou pela falta dos anteriores animadores que motivavam para elas os moradores de cada sítio. Mas todas essas expressões tradicionais continuam ainda a existir, a par das novas formas de entretenimento que há alguns anos foram transpostas para os nossos arraiais. Por outro lado, vemos mais jovens envolvidos na organização das festividades, participando na procissão integrados nas confrarias, interessando-se pelos “usos e costumes” de pais e avós.
Como disse o muito citado Tomasi di Lampedusa, “é preciso que algo mude para que tudo continue na mesma”?
Para evitar uma abordagem simplista das questões do património, em especial o imaterial, devemos ter presente que ele não é fixo, “congelado” no tempo: “as velhas formas culturais não devem ser interpretadas como estruturas imobilizadas, mas sim sujeitas a processos de mutação, rejeição e acrescentamento” (Vovelle, 1982); “popular culture is not a historically fixed set of popular texts and practices, nor is it a historically fixed conceptual category” (Storey, 2001). São os vínculos aos grupos e comunidades de pertença que dão sentido ao património, que antes de mais “pertenece a las personas, que son sus creadoras, herederas, legatarias, transmisoras, etc.” (Merillas, Sánchez-Macías & Ortega, 2018).
Por isso, sim, os arraiais do nosso património imaterial continuam a fazer sentido para as pessoas que os promovem e neles participam, em especial nos lugares onde a festa religiosa e profana é muito vivida pelos locais (residentes ou emigrados). Entre outras, destacamos a já referida Festa de Nossa Senhora do Livramento, uma das grandes romarias da Madeira de outrora que se celebra no próximo fim de semana no Curral das Freiras, ou a pequena e magnífica Festa de Nossa Senhora das Neves em S. Gonçalo (final de julho, início de agosto), ou uma das grandes “sete senhoras” de 15 de agosto, a Festa de Nossa Senhora da Graça, no Porto Santo. (https://museus.madeira.gov.pt/DetalhesObra?id=20&tipo=IMA Desta de N.S. Graça).


Festa de Nossa Senhora das Neves - S. Gonçalo, 2022 (Arq. ACH)



Festa de Nossa Senhora da Graça - Porto Santo 2022 (Arq. ACH)


Festa do Santíssimo Sacramento - Curral das Freiras 2022 (Arq. ACH)
Desde já agradecemos que nos enviem registos pessoais das vossas/nossas festas para o arquivo da ACH, através do e-mail casascomhistorias.info@gmail.com. Continuemos a ser legatários e transmissores desta herança muito especial nos próximos fins de semana de agosto e setembro.
Fiquem bem.
A Direção da Associação Casas com Histórias
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